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“Um homem não morre quando deixa de existir e sim quando deixa de sonhar”.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

ITAMAR FRANCO UM POLÍTICO SINGULAR


Itamar Franco entra para a história como figura
absolutamente singular. Nenhum outro presidente brasileiro
fez tanto, em tão pouco tempo, em condições políticas e
econômicas tão difíceis e sem violar uma única regra
democrática. Derrubado o presidente Collor, em dezembro de
1992, ele assumiu o posto no meio de uma crise gravíssima,
com a administração federal em frangalhos, a economia
devastada por uma inflação sem freios e o País sem
crédito. Jamais seria censurado se apenas mantivesse o
Brasil funcionando e entregasse a faixa, dois anos depois, a
um sucessor com capital político suficiente para enfrentar
as tarefas mais duras. Mas seu roteiro foi outro. Quando ele
deixou o posto, a hiperinflação havia sido vencida e o
governo executava o mais criativo e bem-sucedido plano de
estabilização econômica posto em prática no Brasil. Mas
era preciso consolidar a conquista e o ministro encarregado
de comandar a elaboração e a
implantação do plano foi seu sucessor.


Coragem, clareza e simplicidade nas ações políticas
marcaram sua passagem pela Presidência. Ao iniciar o
mandato, pediu a demissão de todos os ministros e recompôs
o primeiro escalão segundo seu julgamento. Em 1993 entregou
o Ministério da Fazenda a um sociólogo famoso, com
passagem pelo Senado e pelo Itamaraty, mas nenhuma
experiência na administração econômica. Foi o primeiro
passo para a elaboração do Plano Real, o controle da moeda
e a reforma das finanças públicas.

Itamar levou para a chefia da Casa Civil um respeitado
funcionário da Câmara dos Deputados, Henrique Hargreaves.
Acusado de irregularidades, Hargreaves deixou o cargo, em
acordo com o presidente, para melhor se defender.
Inocentado, reassumiu o posto. O exemplo dado por Itamar
nesse episódio foi muito lembrado nos últimos oito anos
quando figuras importantes do governo foram envolvidas em
grandes escândalos. Mas não foi seguido. Se alguém se
afastou ou foi demitido, foi só quando sua posição se
tornou insustentável e perigosa para seu chefe.

Em sua última passagem pelo Senado, o ex-presidente
manteve suas características bem conhecidas. Marcou
presença nas atividades rotineiras do Congresso de modo
firme, claro e minucioso. "Suas questões de ordem,
formuladas com segura obstinação, causavam furor. Sem ele,
o dia a dia do Senado - perdoem-me os colegas - fica mais
banal", comentou o senador Aloysio Nunes Ferreira. Esse
retalho de memória descreve com precisão o comportamento
habitual de Itamar Franco.

As mesmas qualidades tornaram Itamar Franco admirável e o
expuseram a críticas. Sua determinação se expressou ora
como firmeza, ora como teimosia. Nem todos concordaram com
seu nacionalismo às vezes fora de propósito e exacerbado.
Em janeiro de 1999, em meio a grave crise cambial, Itamar,
governador de Minas, declarou moratória da dívida
estadual, complicando uma situação nacional já muito
difícil.

Como outros ex-presidentes, Itamar permaneceu no dia a dia
da política, em vez de se afastar e assumir um lugar no
panteão de quem já passou pelo posto mais alto do País.
Poucos teriam, tanto quanto ele, as condições morais para
o papel de conselheiro e de servidor suprapartidário,
reservado para funções de interesse do Estado. Mas ele
permaneceu na arena política, disputou indicações, mudou
de partido e não parou sequer depois de completar o mandato
de governador de Minas. O Brasil, é justo reconhecer, não
perdeu com isso. Ao contrário, pôde beneficiar-se de sua
teimosia e de sua lisura ainda por alguns anos.

O Brasil é hoje certamente melhor do que era antes de
Itamar Franco exercer a Presidência da República. A
vitória contra a inflação fortaleceu a economia, abriu
caminho para a redução das desigualdades e estabeleceu as
bases para o crescimento seguro. Tudo isso mudou a imagem
externa do Brasil e elevou o autorrespeito dos brasileiros.
Os passos decisivos dessa enorme transformação foram dados
em apenas dois anos, num ambiente extremamente
desfavorável. Haver governado o Brasil nesse período
extraordinário bastaria para construir a reputação de
qualquer pessoa. Mas Itamar Franco ainda se distinguiu por
algo mais: terminou a carreira de homem público teimoso,
determinado e briguento sem uma única mancha em sua
reputação.

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