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“Um homem não morre quando deixa de existir e sim quando deixa de sonhar”.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Estudantes contra a divisão

Uma manifestação levou às ruas do centro de Belém, ontem de manhã, mais de cinco mil pessoas contra a divisão territorial do Estado do Pará. A marcha, composta principalmente por estudantes, também contou com a presença de políticos, empresários e representantes de entidades de classe. Entre os principais argumentos dos contrários à divisão do Estado está criação de três unidades federativas enfraquecidas e mais pobres. O plebiscito que vai decidir pela criação ou não dos Estados de Tapajós e Carajás, com sua separação do Pará, será em 11 de dezembro.
TSE definiu regras de campanha na quinta
Na última quinta-feira o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) definiu algumas regras para as campanhas pró e contra a divisão do Estado. A principal delas: as duas campanhas terão limite de gastos de R$ 10 milhões. O ministro Arnaldo Versiani, relator das resoluções do plebiscito do Pará, estabeleceu esse teto com base nos gastos previstos para uma campanha ao governo do Estado: entre R$ 5 milhões e R$ 8 milhões.
Outro ponto que ficou definido pelo TSE é que haverá rodízio para as campanhas pró e contra nas inserções de rádio e TV. Durante os 20 dias de campanha haverá um dia destinado à campanha do "não" e outro para o "sim". A campanha gratuita na televisão vai durar entre 11 de novembro e 7 de dezembro e será veiculadas diariamente, exceto nos domingos e quintas.
Durante da definição das regras, Versiani rejeitou proposta do jurista Dalmo Dallari de ampliar o plebiscito para todo o Brasil e a votação ocorrerá apenas no Pará. O TSE definiu que todas as cidades paraenses terão direito a voto e não apenas as regiões que pedem a emancipação.
Outra regra que ficou definida na sessão de quinta-feira é que somente parlamentares em exercício de mandato podem presidir as frentes pró e contra a divisão do Pará. A consulta popular ocorrerá no dia 11 de dezembro, das 8h às 17h. Os eleitores paraenses são obrigados a votar. Quem não comparecer ao plebiscito terá 60 dias para justificar sua ausência.
"Juntos somos fortes e separados seremos reféns", alerta Fafá
Participante ativa do movimento "Diretas já", em 1984, a cantora paraense Fafá de Belém pode ter seu nome ligado à mais uma campanha: contra a divisão do Pará, seu Estado de origem. Oficialmente, não existe convite para a cantora, mas ao Portal iG ela não descartou a possibilidade de levantar mais uma bandeira. O plebiscito sobre a divisão do Pará será em 11 de dezembro.
Fafá de Belém afirmou que é contra a divisão do Estado, classificando o Pará como uma grande nação. "Eu sou de um ‘País’ que se chama Pará. Juntos somos fortes e separados seremos reféns", declarou ela por e-mail. "Tornando público o meu ponto de vista, já estou tomando partido de um determinado lado. Com a separação, o Estado do Pará perderia a sua identidade, sua digital", disse ao ser questionada sobre a possibilidade de fazer campanha contra a divisão do Estado. Ela ainda acrescentou. "Não somos um produto na prateleira, somos a somatória de todos estes rios, de seus cheiros, seus sabores. Somos o movimento destas marés, a mistura de tudo que por aqui passou e passará. Não somos exclusivos, somos agregadores!", finalizou Fafá. Ela foi considerada nos anos de 1980 a "Musa das diretas" após se apresentar gratuitamente em diversos comícios e passeatas, entoando de forma original o Hino Nacional Brasileiro.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o paraense Ophir Cavalcante Júnior, já conseguiu a convocação do meia Paulo Henrique Ganso, do Santos, para fazer campanha contra a divisão do Estado. Outro que prometeu ajudar na campanha é o lateral-direito do Santos, Marcos Rogério Lopes, o Pará. Os dois vão gravar depoimentos pelo "não" à criação dos Estados de Tapajós e Carajás.

Marcha de protesto que critica o retalhamento do pará leva 5 mil às ruas de Belém. Plebiscito será em dezembro.

O desemprego, com a redução do Produto Interno Bruto (PIB); a miséria, com a perda dos royalties minerais; e estagnação da economia também foram lembrados pelos manifestantes como consequências de um retalhamento do Estado. A caminhada de ontem serviu ainda para que as frentes contrárias à separação se unificassem, já que grupos distintos defendem a mesma tese: manter o Pará com a configuração geográfica atual. A passeata de ontem foi organizada por estudantes de várias escolas de Belém, que fizeram vários discursos durante a marcha. A letra do hino do Pará foi cantada pelos manifestantes ao longo dos 3 km percorridos entre o largo da Escadinha, na rua Marechal Hermes, e a praça Batista Campos.
União - A estudante Maely Machado chorou ao falar sobre a proposta de divisão do Estado. "Se dividir, vamos perder a nossa identidade. O Pará é um Estado de todos e, com a separação, nenhum deles conseguirá manter-se. As fontes minerais de Carajás são esgotáveis, e quando as grandes empresas sugarem tudo, restará miséria e criminalidade aos nossos irmãos que lá residem", avaliou. Para Maely, é preciso pensar de forma unificada na solução dos problemas, "sem transformar o Pará em uma unidade federativa inexpressiva", disse.
A administradora Rafaela Gomes vestiu a camisa do Pará e também acompanhou a marcha contra a divisão do Estado. "Querem tirar as nossas riquezas. Essa proposta absurda não partiu de paraenses, tenho certeza, são interesses de terceiros. Mas quem ama o Pará jamais vai permitir esta divisão", ressaltou. A empresária Lecy Garcia, amiga de Rafaela, acrescentou: "Juntos somos fortes, temos expressão no cenário nacional. Não podemos ficar nas mãos de interesses pessoais."
Internet - Um grupo de alunos de uma escola particular de Icoaraci, após uma aula de geografia, aderiu ao movimento de ontem, que começou na internet por meio de uma rede social. O estudante Kaike Pacheco foi um deles. "Ficamos sensibilizados com questão da separação do Pará. Criamos as nossas próprias redes sociais, também contrárias à divisão. Passamos a mobilizar alunos de todas as classes", disse. Já a estudante Betel Cavalcante, colega de classe de Kaike, afirmou que o maior interesse dos alunos é participar de um momento histórico para o Estado. "Precisamos levar informação àqueles que ainda não perceberam os prejuízos que teremos, caso o Pará seja retalhado", alertou.
A estudante de direito Flávia Sanz pintou o rosto para participar do ato de ontem. Ela tomou a decisão após analisar os legados que serão deixados ao Pará, se dividido, bem como os dados econômicos das três unidades federativas criadas a partir da separação. "Analisei cada indicador, ponto a ponto, e cheguei à conclusão que só temos a perder. Tapajós é o Estado que mais vai perder. Esta divisão só vai servir a interesses políticos, e não às questões populares", pontuou. Para ela, falta atitude ao povo da capital paraense para que o movimento se fortaleça. "Se as pessoas conscientes se mobilizarem contra esta violência, o Pará vai continuar grande", asseverou.

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