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“Um homem não morre quando deixa de existir e sim quando deixa de sonhar”.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

PSD: ideologia pesquisada

"O PSD não terá cara porque nasce sem formular o seu pensamento. Vai defender as ideias e ideais que as pesquisas qualitativas e quantitativas disserem que o eleitor quer. Concebido em laboratório, o PSD versão 2.0 vai se adequar às necessidades e ao gosto do freguês. Um partido nem frango, nem peru. Chester, talvez"

É realmente peculiar a forma como está sendo constituído o PSD pelo hábil – tão hábil que até pouco tempo ninguém sabia que ele era hábil – prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Desvendar qual cara terá o PSD – que promete em breve reunir muito além das 500 mil assinaturas necessárias e nascer já com 40 deputados federais, dois governadores, seis vice-governadores, quatro senadores e um sem número de prefeitos, vereadores e deputados estaduais – tem sido um dos exercícios prediletos de analistas políticos nos últimos meses. 

O PSD, entretanto, não terá cara. E não terá cara porque nasce sem formular o seu pensamento. A ideologia do novo partido, disse-me o secretário-geral Índio da Costa há poucos dias, será discutida depois que ele for criado. Como? Através de pesquisas qualitativas e quantitativas. Isto mesmo: o PSD vai defender as ideias e ideais que as pesquisas quali e quanti, como dizemos no jargão profissional, disserem que o eleitor quer. 

Se a autora ficou bege diante da declaração, imagine o que sentiu Benedito Valadares, fundador do velho PSD, em seu mausoléu mineiro?

Kassab já tinha cunhado a máxima de que o novo PSD não será de direita, nem de esquerda, nem de centro. Será o que, então? Índio desvendou o mistério. Concebido em laboratório, o PSD versão 2.0 vai se adequar às necessidades e ao gosto do freguês. Um partido nem frango, nem peru. Chester, talvez.

A formulação química do novo PSD terá que prever espaços para várias situações: 1) hospedar uma enorme quantidade de pessoas que, em seus partidos atuais, sabem que dificilmente terão legenda para disputar a eleição municipal do ano que vem; 2) abrigar uma turma imensa que está hoje em siglas de oposição e louca para se (re)aproximar do poder; 3) acomodar os índios que, em seus partidos de origem, estão insatisfeitos com seus respectivos caciques. Este, aliás, é o caso do próprio Índio da Costa, fonte inspiradora dessas linhas.

Aos 40 anos, quadro político carioca forjado na Zona Sul e Barra da Tijuca, áreas nobres da cidade, Índio ganhou projeção nacional ao virar vice na chapa presidencial de José Serra, ano passado. Assim como o prefeito Eduardo Paes, de quem é amigo desde os 10 anos de idade, formou-se na escola Cesar Maia, a quem conheceu por intermédio da filha deste, Daniela. Em 2003, aos 22 anos, Índio era administrador do Parque do Flamengo. Pouco depois, virou subprefeito, vereador, duas vezes secretário de administração e, em 2006, deputado federal.

Na Câmara, fez barulho com os gastos dos cartões corporativos do governo – o que levou Erenice Guerra ao seu primeiro escândalo, quando fabricou a pedido sabe-se lá de quem na Casa Civil um dossiê sobre os mesmos gastos feitos no governo FHC. Depois, virou relator do projeto ficha limpa e amealhou uma legião de seguidores no Twitter. O céu parecia o limite. 

A relação entre criador e criatura começou a azedar a um ano da eleição de prefeito de 2008. César estimulara todos os melhores quadros do DEM a trabalhar para viabilizar suas candidaturas a prefeito. Como secretário de administração, Índio tinha acesso ao banco de dados do Rio e fez o dever de casa: montou equipe, organizou as informações, dedicou-se durante meses a estudar a cidade. Sabia tudo – pelo menos achava que sabia. Também não tinha dúvidas de que o professoral César Maia lhe daria nota 10 e o promoveria a candidato, com louvor. Para sua surpresa, porém, César reuniu “o grupo” e comunicou que o nome seria o da então deputada Solange Amaral. Foi o começo do fim. Depois de quase 20 anos de convivência, Índio descobriu que César não era um democrata. Deu-se conta, também, que por melhor aluno que fosse, o mestre jamais o deixaria fazer sombra ao filho Rodrigo. E tinha mais um detalhe: a onipresente mulher de César, a chilena Mariangelis Maia, não ia com a cara dele desde os tempos em que namorou Daniela – aliás, gêmea de Rodrigo. 

Índio poderia ter procurado um psicanalista, mas achou melhor fundar um novo partido. A primeira coisa que fez foi se reaproximar do amigo de toda a vida Eduardo Paes – ele já anunciou inclusive que o PSD apoiará a sua reeleição ano que vem, assim como já decidiu que estará junto com o vice Luiz Fernando Pezão na sucessão de Cabral, em 2014. Cedo, não? Não para o PSD.

Feito isso, tratou de desidratar o DEM do Rio, levando para o PSD o veterano deputado federal Arolde de Oliveira, dono da segunda principal rádio evangélica do estado, e a única deputada estadual do partido na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Graça Pereira. Só sobrou de deputado do DEM do Rio o próprio Rodrigo Maia. Até Solange Amaral, hoje sem mandato, que era tão fiel ao chefe que foi sua candidata a prefeita em 2008 e a governadora em 2002 e 2006, embarcou na canoa de Índio. 

Sem mandato e sem problemas de dinheiro (a família é dona de um dos mais reputados escritórios de arquitetura do país), Índio tem se dedicado a viajar o estado e o Brasil ajudando Kassab a vender a ideia do novo partido. Fala com o prefeito paulista várias vezes por dia. Os principais argumentos usados para atrair adesões ao PSD estão bem ensaiados. São eles: 

- Se você vier agora, antes da fundação do partido, não perde seu mandato porque a lei só considera infidelidade trocar um partido por outro– criar um novo pode;
- Como o PSD não é partido do contra, você estará próximo do poder, seja ele qual for; 
- Se você se eleger pelo PSD e, depois, quiser sair, o partido não irá reivindicar o seu mandato; 
- No novo partido não haverá cacique, todos serão índios. Você poderá montar a sua nova tribo;

Mas e se alguém perguntar de ideologia, sobre programa ou quais são as ideias do novo partido, Índio também tem a resposta: “Ora, isso a gente resolve depois, com pesquisa”.



* Jornalista formada na PUC-RJ (1990), é master em Jornalismo Internacional pela Universidade de Cardiff (1996) e tem MBA em Marketing pela Copeead-UFRJ (2007). Começou a trabalhar em redações em 1988, tendo passado pelo jornal O Dia, Jornal do Brasil (Rio e Brasília) e TV Bandeirantes. Trabalhou em diversas campanhas eleitorais e atua desde 2002 na área de assessoria de comunicação e imagem. 

Outros textos do colunista Daniella Sholl*

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