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“Um homem não morre quando deixa de existir e sim quando deixa de sonhar”.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Servidora fantasma da Alepa entregou documentos em campanha eleitoral

A diarista Michelly Luzia Cunha Noronha, de 32 anos, é mais uma das servidoras fantasmas da Assembleia Legislativa do Pará. Moradora do Icuí-Guajará, um bairro violento do município de Ananindeua, ela afirma que nunca viu um tostão do salário que receberia como funcionária da Casa.
Ela é mais uma das laranjas identificadas na investigação do Ministério Público do Estado (MPE), que apura o desvio mensal de R$ 800 mil a R$ 1 milhão da folha de pagamento da Alepa. Michelly vive numa casa de alvenaria com dois cômodos, erguida com sacrifício pela família que tem renda média mensal de R$ 800,00.
Diferentemente de outras funcionárias fantasmas já identificadas, Michelly entregou cópias dos documentos pessoais para organizadores de campanhas políticas às quais prestou serviço nas últimas eleições.
Temendo represálias, ela não revela nomes e nem partidos, mas reivindica justiça. "Eu sempre trabalhei em campanha para políticos. Eles pedem documentos. Eu carrego bandeiras, distribuo panfletos. Dependendo do serviço, a gente ganha R$ 60,00 a R$ 100,00 por semana", conta. Ela já prestou depoimento no MPE, a quem revelou os nomes dos candidatos para quem trabalhou. "A minha mãe me falou: ‘Filha, não mexe muito com isso que esses políticos têm dinheiro, tem gente perigosa’", afirmou, para justificar a omissão de nomes ao ser questionada. Segundo o MPE, os fantasmas encontrados na investigação, como Michelly, recebiam salário entre R$ 4 mil e R$ 16 mil.
Três outras domésticas - Ivonete Silva, de 44 anos, J. P. R., de 43 anos, e a nora desta última, Elcione Ribeiro da Costa, de 26 anos – também identificadas como servidoras fantasmas -, contaram que foram ludibriadas a fornecer cópia dos documentos pessoais, como carteira de identidade, CPF e título de eleitor, para receber cestas básicas e brinquedos que seriam doados pela Alepa. Os documentos foram entregues para a ex-servidora do Legislativo, Milene Carneiro, e o marido dela, Fernando Rodrigues.
Quando foi chamada a depor no Ministério Público, Michelly não entendeu o que estava acontecendo. Só ficou sabendo exatamente que estava sendo vítima de uma fraude quando leu o próprio nome publicado na imprensa, na última sexta-feira, que divulgou o teor do despacho do juiz da 1ª Vara da Fazenda da Capital, Elder Lisboa, na decisão que decretou a quebra do sigilo bancário da Alepa. "Eu entendi que estava empregada na Assembleia recebendo um bom dinheiro e eu não tinha a menor idéia. Estou me sentindo enganada, usada", disse a diarista. Ela já consultou um advogado para processar a Assembleia por danos morais.
O Movimento Popular Unificado da Área Metropolitana de Belém (Mpub) deu entrada na Procuradoria da República no Pará no pedido para que o Ministério Público Eleitoral volte a analisar as contas de campanha dos deputados estaduais reeleitos. "Mesmo que as contas já tenham sido julgadas e aprovadas, existe um fato novo", justifica o presidente da entidade, Vladimir Gomes, referindo-se à crise que assola a Alepa. Ministério Público Estadual, Federal e do Trabalho e a Receita Federal apuram os crimes de desvio de recursos na folha de pagamento, sonegação de impostos federais e fraudes em licitações e contratos.

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